
Nesta seção do Cantinho dos Moonies, encontrarás reviews feitos pelos fãs, para os fãs, do volume 1 do manga de Sailor Moon, lançado pelo Distrito Manga,

Review por – Margarida Póvoa, 25/10/2025
Dia 30 de abril de 2025. Quarta-feira.
Passavam 48h desde o apagão que causou o fecho de escolas, o caos nas comunicações e a corrida aos postos de combustível. Entre inquéritos e relatórios, Portugal e Espanha tentavam perceber o que levou ao corte de energia. Um ataque cibernético? Uma árvore que caiu perto de uma central francesa? Uma vibração atmosférica induzida por um circo extraterrestre que chegou à Terra em busca de Pegasus e do seu Cristal Dourado? Tudo era estranho e confuso. Mas eis que a Distrito Manga, chancela da Penguin Random House, anunciou o lançamento da série “Pretty Guardian Sailor Moon” em Portugal!

Ainda assim, foi preciso esperar até 10 de setembro pela revelação da capa da edição portuguesa, adaptada pela designer gráfica Carolina Leonardo, e pela data de lançamento: 20 de outubro de 2025. No entanto, pouco importava. A minha criança interior estava aos pulos de alegria, porque não só a “Navegante da Lua” estava de volta como regressara no meu idioma! O dia 20 de outubro estava marcado a rosa, azul e dourado na minha agenda. Qual a minha surpresa, quando recebo o primeiro volume um dia antes!
Depois de ter ficado com a impressão de que o estafeta era um agente do caos infiltrado, dei por mim a contemplar uma caixa de cartão. Em retrospectiva, parece tolo. Se calhar, é mesmo. Simplesmente, não podia acreditar que estava prestes a ler o primeiro volume de uma série que marcou a minha vida. Não me castiguem em nome da Lua, ou em nome de qualquer outro satélite ou planeta, mas nunca tinha conseguido ler a série completa. Houve tentativas, sobretudo online e até em francês, mas falharam sempre! Naquele dia, quando cheguei a casa, informei que estaria indisponível nas próximas horas e que se precisassem de mim, então, que deixassem de precisar.

Foi com genuína curiosidade e entusiasmo infantil que comecei a percorrer a história desta adolescente japonesa de 14 anos com sérios problemas em acordar cedo e em tirar boas notas a matemática. Aliás, foi numa dessas manhãs em que o despertador (alegadamente) não se fez ouvir e em que (supostamente) ninguém se dignou a acordá-la, que Usagi Tsukino se cruzou com uma gata preta. O encontro revelou ser mais do que um mero acaso, quando Luna (a dita gata) se apresenta e incumbe Usagi de lutar contra as forças do mal e de encontrar as outras guerreiras que usam uniformes de marinheiro. Só depois de se encontrarem é que poderão dar seguimento à sua verdadeira missão: encontrar e proteger o Cristal Prateado e a sua princesa.
É possível que tenha ido com demasiada sede ao pote, enquanto lia, porque senti que a leitura foi mais rápida do que estava à espera. O volume é composto por seis capítulos (os primeiros seis do arco do “Dark Kingdom”) e, à exceção do “Masquerade – Baile de Máscaras”, cada um apresenta e/ou explora um personagem. São capítulos relativamente curtos, onde a arte ocupa mais espaço que o texto, e por me encontrar naquela ânsia de querer ler e absorver todo e qualquer detalhe, acabei por não desfrutar tanto desta experiência quanto gostaria. Ou seja, a desculpa perfeita para reler estas 224 páginas!
Outros dois pormenores de que também gostei prendem-se com os nomes das personagens. Por um lado, mantiveram-se os nomes originais (a Bunny, a Rita, a Maria e a Joana ficaram na dobragem portuguesa dos anos 1990 e deixarão saudades) e o seu sentido de leitura, por outro. Ou seja, primeiro o apelido e só depois o nome próprio do personagem. Ainda assim, a edição portuguesa não está isenta de pérolas! É do conhecimento geral que o penteado da Usagi dá aso a várias alcunhas, mas a minha preferida até agora é “cabeça de bolos de arroz”. É comprida, complexa e cansativa de se dizer em voz alta. Tudo o que uma alcunha não deve ser. Por isso, é tão engraçada!
A série foi originalmente publicada entre 1991 e 1997 e nota-se. É curioso ver o que mudou e o que não mudou ao longo de quase trinta anos. Existe uma distância entre a história, que tem como pano de fundo o Japão do final do século XX, e nós, leitores de 2025. Digo-o não como defeito, mas com uma certa nostalgia. Os salões de jogos que se tornaram espécies em vias de extinção, o centro de estudos que a Ami frequenta (ato 2) ainda usa CDs para fazer lavagem cerebral ou o conselho da Luna sobre se devermos ler o jornal todas as manhãs! Quanto a vocês, não sei, mas eu sentir-me-ia logo mais segura se soubesse que a guerreira do amor e da justiça da minha zona se informasse sobre tudo o que se passa logo pela fresca.
No entanto, mais importante do que encontrar aquilo que separa a história de Naoko Takeuchi da atualidade é perceber o que sobrevive à passagem do tempo! Ser adolescente não é fácil; lidar com a escola, família, amigos e namorados/as, ao mesmo tempo que se travam lutas quer contra as forças do mal para restabelecer o equilíbrio do universo quer contra uma mente em mudança tem o seu quê de desafiante. Felizmente, estas guerreiras que lutam pelo amor e pela justiça podem contar umas com as outras e nós podemos contar com elas.
Sim, os uniformes de marinheiro são ícones. Sim, o penteado a la odango da Usagi é incrível. Mas se tudo isto desaparecer, o que é que fica? Fica uma história de amor (de amor próprio, de amor romântico, de amor fraternal, de amor filial incondicional), uma história de luta (por aquilo que é bom e justo), uma história que nos dá alento e esperança. Ninguém fica para trás.



Por falar em ninguém ficar para trás, confesso que sou péssima a acompanhar o que quer que seja. Se a minha lista de séries abandonadas a meio se tornasse um vilão de “Pretty Guardian Sailor Moon”, temo que tivéssemos material para um arco inteiro! Dito isto, quero fazê-lo por esta série e até tenho a tarefa facilitada, uma vez que este ano só saiu o primeiro volume dos doze previstos. Segundo um artigo do jornal Expresso de 15 de outubro de 2025, a Distrito Manga planeia lançar os restantes volumes ao ritmo de três por ano. Por isso, teremos com que nos entreter até 2029. Sem dúvida que é tempo suficiente para montar os nossos próprios uniformes!

