O renascimento de Esmeralda?
O festival do Templo Hikawa.
Com um sentimento demasiado familiar de decepção e desamparo, Bunny entrou no carro com as mãos trêmulas, os olhos marejados de lágrimas, e arrancou a toda velocidade em direção ao templo Hikawa. O motor rugia enquanto ela conduzia pelas ruas, a sua mente repleta de preocupação e incerteza sobre o paradeiro do seu amor.
Finalmente, ao chegar perto do templo Hikawa, Bunny estacionou o carro com um soluço abafado, saindo do veículo com passos hesitantes, preparando-se para enfrentar as amigas e compartilhar a notícia do desaparecimento de Gonçalo, uma vez mais. Ao chegar ao fim da longa escadaria do templo, Bunny foi brindada com a voz reconfortante do seu amado, que exclamou com alívio: “Bunny! Que bom que chegaste!”, enquanto falava animadamente com Rita, Maria e Joana. Naquele momento, Bunny não percebeu completamente como Gonçalo estava ali, mas nada disso importava quando comparado com o alívio que inundou seu coração.
Mais tarde, num momento de calma, Gonçalo explicou que tinha tentado fazer-lhe uma surpresa ao chegar no voo anterior. O seu objetivo era surpreendê-la ao chegar directamento ao templo. “Apanhei um táxi, mas o trânsito estava terrível. Cheguei muito depois do previsto”, admitiu ele. “Quando tentei ligar-te, percebi que o roaming não estava ativado no meu telefone. E quando finalmente consegui fazer a ligação, o teu telefone não estava a passar as chamadas.”
Bunny, com os olhos húmidos de lágrimas, confirmou que tinha ficado sem bateria: “Aprecio a tua intenção, mas o susto e a preocupação não compensaram a boa ação. Teria preferido saber que estavas a caminho e que tudo estava bem.” A voz dela tremia com a emoção, mas havia um certo alívio ao expressar seus sentimentos. Gonçalo desculpou-se com um doce beijo na testa.
“Peço desculpa de te ter preocupado. E peço desculpa por também não ser portador de boas notícias”. Gonçalo respirou fundo antes de continuar, o seu olhar distante revelando preocupação. “Ontem, quando vinha da faculdade recebi uma visita inesperada.”
“Inesperada? Quem?”, perguntou Bunny, com os olhos curiosos.
“Hélios.”
“O Hélios foi ver-te?”, Bunny pareceu intrigada, relembrando-se do guardião de Elysion.
“Sim, e receio que não tenha vindo trazer boas notícias.” Gonçalo hesitou antes de continuar. “Elysion está a ficar enfraquecida e o Cristal de Ouro está a perder o poder, tal como o teu Cristal Prateado.”
Bunny empalideceu ligeiramente ao ouvir as palavras de Gonçalo. “Bem, não sei se perdeu totalmente o poder, mas já não nos conseguimos transformar.”
Gonçalo assentiu, sua expressão sombria. “Depois de me ter dito isto, disse que tinha de entregar o Cristal de Ouro ao seu verdadeiro utilizador para poder restaurar o seu brilho.”
“Verdadeiro utilizador? Mas não és tu? Afinal o Cristal de Ouro é o cristal protector da Terra e a tua Semente de Estrela” – exclamou Maria confusa.
“Não tive tempo de fazer perguntas, ele simplesmente desapareceu.”
Bunny sacudiu a cabeça lentamente. “Não imaginei que até o Cristal de Ouro estivesse a perder o poder.”
O peso das palavras pairou no ar, envolvendo-os numa aura de incerteza e apreensão. O que é que o futuro reservava para eles, agora que até os mais poderosos cristais estavam a perder a sua força? Como poderia acontecer a ascenção de Cristal Tóquio na Terra sem o poder do Cristal Prateado e do Cristal de Ouro?
” Rita, a fila lá fora está enorme!” – advertiu Joana, olhando para baixo da grande escadaria. Estava na hora de abrir o festival de Talentos. O festival do Templo Hikawa representava mais do que apenas uma celebração cultural local. Apoiado pela câmara de Juban e amplamente divulgado nas redes sociais, era uma oportunidade imperdível para aumentar a frequência do templo e atrair novas pessoas.
Quando Maria acendeu o interruptor, uma cascata de luzes iluminou todo o recinto do templo. Os grilos, ocultos nas sombras das árvores, acompanhavam a sinfonia noturna com seu canto suave, enquanto o aroma das flores recém-regadas flutuava pelo ar. O parque, meticulosamente arrumado e aparado, era um convite à contemplação e ao deleite, e o pátio, adornado com lâmpadas japonesas tradicionais, parecia um portal para um mundo encantado.
À medida que Rita abria a bilheteira, uma torrente de pessoas invadia o recinto do festival. Em questão de minutos, a lotação estava esgotada, e a energia pulsante da multidão preenchia o ambiente. As pessoas dispersavam-se pelos diversos stands montados durante a tarde, responsabilidade das diversas colectividades locais que os ocupavam, cada um oferecendo uma experiência única e cativante. O stand de Maria, um paraíso de plantas exóticas, exalava um aroma convidativo, enquanto Rita, com seu stand de amuletos da sorte do templo, prometia transformar destinos com o seu toque místico.Bunny e Joana, ansiosas para entreter os visitantes, estavam atrás do stand de jogos. Bunny, com sua habilidade teatral inata, atraiu os transeuntes com sua performance cativante.
“Disco…. Ação!!” proclamou, lançando o disco com habilidade e precisão. “Venham jogar o lançamento do disco! Acertem no alvo e ganhem um peluche das navegantes!”
Algum tempo depois, Rita diminuiu a intensidade das luzes, sinalizando o início do espetáculo principal. Uma explosão de fogo de artifício irrompeu no céu noturno, deixando os espectadores boquiabertos com sua magnitude e beleza. Então, como se emergisse das próprias chamas, Rita surgiu no palco, envolta em um quimono deslumbrante e segurando um microfone com confiança.
“Boa noite, caros visitantes, e bem-vindos ao Festival de Telentos do Templo Hikawa!” a sua voz ecoou, imponente e carregada de entusiasmo. “O meu nome é Rita Hino, e é com grande alegria que dou início ao nosso tão aguardado festival de talentos!”
A multidão irrompeu em aplausos – à medida que a noite avançava e o espetáculo de talentos se desenrolava, o palco tornava-se palco de momentos inesquecíveis e hilariantes. Primeiro, Jimmy Guria, com suas declarações de amor desajeitadas, arrancou risos calorosos da multidão, enquanto Sara, sua namorada, o observava com uma mistura de embaraço e afecto.
Em seguida, uma senhora idosa subiu ao palco para recitar um poema que havia composto na juventude. No entanto, suas falhas na memória e suas pausas prolongadas fizeram com que a plateia ficasse em suspense, tentando descobrir se ela conseguiria chegar ao fim do poema. A cada tropeço, risadas e murmúrios de encorajamento ecoavam pelo recinto. A própria Rita subiu ao palco, encorajada pelas suas amigas, para cantar uma canção que tinha cantado há anos atrás no festival da sua escola.
“Meu amor,
Sonho contigo,
Noite e dia,
Sem abrigo!
Os teus lábios são
Doces recordações
Do carinho…“
No entanto, o clímax da diversão estava reservado para o momento em que Joana, bem conhecida em Juban pela sua aspiração desde a infância em se tornar uma estrela do pop, subiu ao palco. Os seus passos confiantes, os seus styletos, o seu vestido de lantejoulas e sua expressão determinada não surpreenderam ninguém, mas ainda assim, a expectativa estava no ar.
Com um gesto teatral, Joana assumiu a postura de uma verdadeira diva e começou a cantar. No início, sua voz vacilou ligeiramente, mas rápidamente ela encontrou-se no ritmo da música.
“Peço desculpa por não ser sincera
Mas nos meus sonhos digo a verdade
O meu pensamento está a dar choque.”
O seu entusiasmo contagiante e sua paixão pela performance cativaram a multidão, que, mesmo diante de seus pequenos erros, aplaudiu calorosamente o seu esforço e dedicação. Enquanto Joana deixava o palco, radiante com a experiência, uma misteriosa mulher subiu e tomou o seu lugar. O seu vestido branco de seda, tão leve que parecia flutuar ao vento, envolvia-a graciosamente ao subir os degraus do palco.
Rita observava fascinada, os seus olhos fixos nos lábios rosa claro da mulher, que se destacavam suavemente contra o tecido branco do véu. A sua cara permanecia escondida. Uma inexplicável sensação de emoção e surpresa envolveu-a, sem que ela compreendesse ao certo o motivo para tais sensações.
Uma doce melodia começou a preencher o ar, enquanto a mulher começava a cantar um cântico de paz. A sua voz era como um feitiço, hipnotizando todos os presentes. Gradualmente, o burburinho da multidão deu lugar a um silêncio reverente, e todos os olhares se voltaram para a misteriosa cantora, absorvendo cada nota que ela entoava.
“Vendo o céu e as estrelas
Eu peço, eu sinto, sinto-te aqui
Pergunto o que, vou fazer?
O teu sorriso m’encantou
Vagueando pela escura noite
A tua presença, o amor guiou””
A melodia envolvente parecia transportar todos para um estado de tranquilidade e contemplação, enquanto as palavras tocavam os corações dos ouvintes. Ninguém conseguia desviar o olhar, tão profunda era a conexão criada pela música.
“Ao andar pela noite
Eu amo-te cada vez mais
Eu vejo, eu sinto
Estás mesmo aqui
És uma miragem
És uma miragem”
Subitamente, no ápice da performance, um estrondo ensurdecedor ecoou pelo recinto, seguido por uma explosão que irrompeu no palco. A música cessou abruptamente, substituída pelo caos e pela confusão que se espalharam entre a multidão, que se dispersou em pânico.
No tumulto dos gritos de horror que se seguiram à explosão, uma risada aguda e sinistra cortou o ar. Uma figura destacava-se no meio do fumo e do caos: uma mulher de longos cabelos verdes claros, que pareciam brilhar como esmeraldas à luz das chamas dançantes. Ela flutuava no ar, pairando sobre o palco destruído, segurando um leque vermelho com elegância.
O reconhecimento foi instantâneo para as quatro amigas, cujas vozes se uniram em um coro de choque e descrença: “Esmeralda!”
Esmeralda, a vilã antiga que julgavam ter derrotado, ressurgiu das sombras com um grito sinistro: “Voltámos a encontrar-nos. Mas desta vez não me vão deter! PODER NEGRO!” Uma rajada de energia negra rasgou o céu, dirigindo-se impiedosamente em direção às quatro amigas, que mal tiveram tempo para reagir.
No último instante, uma rosa vermelha, vinda do nada, irrompeu contra o ataque de Esmeralda, causando uma explosão de luz e cor no ar, como se a própria natureza lutasse ao lado das heroínas. “Mascarado!” exclamaram em uníssuno.
“TUXEDO LA SMOKING BOMBER!” – gritou um homem elegante de capa negra, ao saltar de uma arvore em direçao a Esmeralda, lançando um poderoso ataque de granadas
“PODER NEGRO!” – ripostou Esmeralda lançando um poderoso ataque com o seu leque
Rita agarrou no braço de Bunny e todas fugiram para o parque.
“Rita!” gritou Bunny aflita, “não o podemos deixar o Mascarado ali sozinho!”
“Ele sabe o que fazer!” – respondeu Rita ofegante enquanto corriam. “Agora temos de nos esconder.”
Correram para um canto escondido do parque e subiram para uma árvore. Maria aproximou-se da copa para ver o que se passava.
“Temos de ter calma,” disse Rita, tentando acalmar a respiração, incrédula sobre o que acabara de acontecer. “Aquela não pode ser a Esmeralda. Ela morreu. E ainda por cima, em Cristal Tóquio do século XXX. E viram o símbolo na testa dela? Uma lua invertida com uma estrela preta no centro, não é o símbolo normal da Lua Negra!”
“Aquela É claramente a Esmeralda. E ainda por cima, estragou o meu vestido!” exclamou Joana nervosa.
“Joana, achas mesmo que este é o momento para falar do vestido…” Rita tentou objetar, mas foi interrompida pelo grito de Maria.
“FUJAM!” Maria desceu rapidamente da copa da árvore. “Ela está a chegar!”
Um grito medonho ecoou pelo ar quando um estrondo ensurdecedor fez explodir a árvore. O ambiente mergulhou num breu profundo, e os ouvidos das quatro amigas zumbiam sob o som agudo que sucedeu a explosão.
“Ora, ora. O que temos aqui? Quatro sementes de estrela apagadas.” Esmeralda escarneceu, seu sorriso malicioso pairando no ar enquanto as amigas tentavam recuperar os sentidos.
“Temos que nos transformar!” gemeu Rita, sua voz soando fraca. “MARS CRYSTAL POWER, MAKE UP!”
“JUPITER CRYSTAL POWER, MAKE UP!” Maria tentou, erguendo sua mão para o alto. Mas nada aconteceu.
“Tenta transformar-te, Bunny!” Joana gritou em pânico.
“Não adianta!” Bunny exasperou, tentando-se levantar. Tinha deixado o alfinete em casa, durante anos foi perdendo o hábito de sair com ele. “Onde está o Mascarado?” gritou subitamente ao apercebe-se da sua ausência , buscando-o com o olhar.
“Silêncio.” Exigiu Esmeralda, aterrando diante delas. “Agora, Sailor Moon, entrega-me o teu fragmento!”
“O meu quê?” Bunny perguntou confusa, ainda aturdida pelo zumbido nos ouvidos.
“Não te faças de sonsa, menina! Entrega-me o Cristal Prateado.”
“Eu… Não o tenho aqui.” Bunny respondeu honestamente.
“Mentes!” Esmeralda irritou-se, atirando o seu leque para o chão.
“Não, é verdade! Não o tenho comigo!” Bunny insistiu.
“Então, onde está? Responde!” Esmeralda avançou ameaçadoramente em direção a Bunny.
“Primeiro, dizes-me onde está o Mascarado.” Bunny desafiou com um olhar determinado.
“Tu o quê?” Esmeralda retrucou indignada. “Achas que estás em posição de negociar?”
Um estalo de dedos e cordas negras brotaram do chão, envolvendo Joana pelos braços e pescoço.
“Socorro! Não… consigo… respirar…” Joana gemeu, suas palavras tornando-se cada vez mais aflitas, enquanto as cordas apertavam seu corpo.
“PÁRA!” Bunny gritou desesperada. “Eu digo! Larga-a!”
As cordas afrouxaram, liberando Joana, que caiu desfalecida no chão.
“Em minha casa. No cofre, dentro do meu alfinete!” Bunny entregou a localização do Cristal Prateado.
Esmeralda sorriu maliciosamente. “Então, vens comigo, princesa.” Com outro estalar de dedos, Bunny foi brutalmente lançada até ela. “Quanto a vocês, guerreiras… morram!” Esmeralda riu, formando uma barreira ñegra de poder ao redor das três amigas.
“NÃÃÃOOOOOOOO!!” O grito de Bunny ecoou enquanto Esmeralda desaparecia no ar com ela.
A barreira de energia começou imediatamente a diminuir, envolvendo-as num calor abrasador e consumindo o oxigênio ao redor. Maria podia sentir a eletricidade a crepitar na sua pele, enquanto Rita lutava para respirar, os seus pulmões a queimar com a falta de ar. Um vácuo parecia formar-se dentro delas, sugando a vida de dentro delas.
O desespero tomou conta de seus corações enquanto tentavam proteger o corpo desmaiado de Joana, sentindo a barreira a fechar-se cada vez mais ao seu redor.