O fim das Guerreiras Navegantes?
O Gonçalo desapareceu!

O frio cortante de Janeiro envolve Tóquio, lançando um manto de neve sobre a cidade adormecida. A rainha Serenidade acorda sobressaltada, uma sensação de inquietude pairando no ar. Reminiscente de um passado distante, a sua mente volta-se para um evento traumático, o ataque cruel de Nemésis que quase aniquilou Cristal Tóquio. Mas isso é impossível. Nemésis e a Lua Negra foram derrotados. Mesmo assim, a inquietação persiste, e instantaneamente sabe que o fluxo do espaço tempo foi alterado.

Serenidade caminha pelos corredores majestosos do palácio, com os seus passos ecoando no silêncio gelado da noite. Ao passar pelo quarto da sua filha, Small Lady, vê-la dormir tranquilamente, alheia às preocupações que a assombram. Serenidade segue em direção ao quarto da lua crescente, onde artefatos ancestrais do Reino da Lua repousam numa atmosfera de mistério e poder. No centro da sala, o Cristal Prateado irradia uma luz intensa, quase cegante, enquanto Serenidade o comtempla com reverência, junto a um antigo alfinete em forma de meia-lua.

Com determinação, dirige-se ao fim do palácio, onde uma porta oculta aguarda. Ao abri-la, pronuncia com voz firme: “Plutão, chegou a hora.”

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Enquanto isso, num momento distante no tempo, um som estridente corta o ar, interrompendo o sono de Bunny Tsukino.

“Maldito despertador!” – gritou Bunny, visivelmente irritada, enquanto desferia um murro no botão do silêncio. “Odeio ter aulas de manhã! Talvez deva faltar à universidade hoje”, resmungou para si mesma, ainda sonolenta.
No entanto, a sua paz foi interrompida pela chegada impetuosa do seu irmão, Chico, exigindo que ela o transporasse ao liceu. Com relutância, Bunny levantou-se e desceu as escadas para tomar o pequeno-almoco, onde a sua mãe preparou deliciosas panquecas para a família.

Enquanto bebia o seu café, Bunny folheou o jornal que estava na mesa. Os seus olhos fixaram-se numa foto da página de entretenimento, com a legenda: “Princessa Célia conquista o público em Osaka com a sua voz poderosa e presença carismática.”

“Uau,” Bunny exclamou, surpresa. “Ela é incrível! Bonita e talentosa… Como eu.”

“Sim, ela é mesmo,” concordou a sua mãe ao arrumar a mesa. “É por isso que ela é tão famosa. Ela é uma das cantoras mais populares do mundo. É díficil de acreditar que está a fazer tournée pelo Japão durante meses. Porque será que ela decidiu tornar-se cantora?” perguntou, curiosa. “Poderia ter qualquer coisa que quisesse na vida sem se esforçar muito.”

“Não sei,” Bunny respondeu, levantando os ombros. “Mas acho que se ela gosta de cantar e que se sente feliz ao fazê-lo, é suficiente não?”

Chico assentiu com a cabeça, enquanto comia mais uma porção de panquecas. “Eu também gosto das músicas dela,” admitiu distraído. Ao ver o olhar divertido da sua mãe e irmã, acrescentou embaraçado “mas claro que perfiro uma boa banda de rock!”

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A luz da manhã banha a movimentada Universidade de Tóquio, onde Bunny, agora com 20 anos, se dedica aos estudos de Ciências Políticas. Os seus olhos brilham com ambição e determinação, pois ela sabe que seu destino está entrelaçado com o trono de Cristal de Tóquio. A diplomacia será sua arma, embora ela admita em segredo que a média de 11 no ensino médio e a falta de outras opções de faculdade também tenham influenciado a sua escolha.

Após um dia cansativo de aulas, Bunny dirige-se até o Templo Hikawa, onde se encontra com as suas amigas para sua reunião semanal. O templo, sob a gestão de Rita, que agora se prepara para ser uma sacerdotisa de alto nível, ostenta um novo visual. O bosque ao redor foi transformado num belo parque chamado “Santuário de Marte”, e a nova estação de tramway facilita o acesso ao local.

Rita, ocupada com os preparativos para o Festival de Talentos que acontecerá no dia seguinte, não esconde seu mau humor.

“Cheguei! Desculpem o atraso!” – exclamou Bunny, correndo para dentro do pátio do templo, com a respiração ofegante e os cabelos desalinhados, como se tivesse acabado de atravessar uma floresta densa.

“Se chegasses a horas, seria um milagre!” – respondeu sarcástica uma rapariga de longos cabelos negros, cujo olhar penetrante parecia varrer o atraso de Bunny com uma única olhadela.

“Rita, estás mais rabugenta que um gato molhado num dia de chuva!

“Isso só porque o Fernando foi visitar os pais e a deixou sozinha!” – interveio, rindo, uma rapariga loira com um top brilhante que reluzia sob os raios do sol.

“Joana, por favor, poupa-nos!” – retorquiu Rita revirando os olhos.

“Ah, pois pois… O Gonçalo também está nos Estados Unidos há três anos e eu não fico assim. A Maria?”

“Não vai poder vir.” – explicou Joana fingindo uma lágrima cair. “Desde que abriu aquele restaurante, não tem tempo para nada”.

“Pelo menos agora temos montes de comida grátis!” – exlamou Bunny com os seus olhos iluminados.

“Temos um trabalho enorme pela frente.” – disse Rita, consultando o relógio de pulso. “Vamos pôr as mãos na massa?”

Enquanto organizavam e decoravam o templo e o parque para o grande festival de talentos, as raparigas mantinham uma conversa animada.

“As coisas mudaram tanto nos últimos anos…” – retorquio Bunny enquanto pendurava lanternas de papel entre dois arbustos.

“Sim, agora temos responsabilidades, mas também temos liberdade para seguir os nossos sonhos.” – respondeu Joana varrendo a poeira do passeio.

“Ou seja… Tens a liberdade de continuar como figurante na série do canal mais obscuro de todo o Japão!” – brincou Rita, com um sorriso travesso.

“Mas em breve serei a protagonista! Hollywood, aí vou eu!” – exclamou Joana, com um gesto teatral, enquanto as outras riam.

“Eu estava a falar da nossa amizade” – esclareceu Bunny, com um sorriso nos lábios. “A Ami finalmente foi para a Alemanha estudar medicina, está do outro lado do mundo. A Maria praticamente não tem tempo para nos ver. Ao menos, Joana, ainda bem que não és tão indispensável nessa série, senão também não te veria nunca.”

“Vocês não apreciam o meu talento…” – lamentou-se Joana, fingindo uma expressão de mágoa.

“Não é nada disso! Tu entendes o que eu quero dizer! – desculpou-se Bunny, com um gesto de mão. “A Mariana e a Haruka continuraram as suas carreiras depois de ter vencido o Caoes. A Susana voltou para o portão do tempo. A Octávia mudou-se para Osaka com o seu pai…”

“Rita, o teu carro…!” interrompeu Rita, fitando o horizonte com uma expressão preocupada.

“Chibi-Usa regressou ao futuro, as Starlights desapareceram sem deixar rasto, e a Diana…” Bunny prosseguia, fingindo não ouvir as palavras de Rita.

“Acabaste de ser multada”, disse Rita com indiferença, interrompendo o devaneio de Bunny.

“Ahh!” exclamou Bunny, olhando indignada para o seu carro estacionado em frente ao templo, metros abaixo. “Porque é que não me avisaste, Rita?”

“Tentei, mas não paravas quieta. Se estás tão distraída a ponto de estacionar em dois lugares de mobilidade reduzida, mereces ser multada”, observou num tom autoritário.

“Era só o que me faltava…” murmurou. “Não se esqueçam que a Maria convidou-nos a jantar hoje!” lembrou, tentando desviar a atenção do momento embaraçoso.

No fim da tarde, dirigiram-se ao restaurante da Maria, o “Makoto’s Flavour Shrine”, onde foram calorosamente recebidas por Mário, o co-proprietário. Enquanto aguardavam por Maria, Bunny observou o ambiente com curiosidade.

“A Maria teve muita sorte em abrir este restaurante com o Mário”, comentou, admirando a decoração peculiar do local, transbordando de plantas.

“Olá meninas! Tudo bem com vocês?” perguntou Maria, sorridente no seu avental branco.

“Tudo óptimo! Maria, quero uma lasanha de carne, bem generosa no queijo derretido!” pediu Bunny, com entusiasmo.

Enquanto saboreavam o jantar convivial, repleto de conversas animadas e risos contagiantes, Bunny sentiu-se envolvida pela atmosfera acolhedora do restaurante da Maria. Cada garfada da lasanha derretia na boca, enquanto o aroma tentador da pizza recém-chegada à mesa despertava os sentidos de todos os presentes. O ambiente descontraído e caloroso contrastava com a tensão latente que pairava no ar, preparando o cenário para a revelação perturbadora que estava prestes a mudar o rumo da noite.

Após o jantar, dirigiam-se à cozinha a pedido de Maria, onde foram surpreendidas por uma revelação perturbadora.

“Não pode ser…” murmurou Bunny, perplexa. Maria havia acabado de anunciar que já não se conseguia transformar em Navegante de Júpiter.

“Nenhuma de nós consegue se transformar. As Sailor Guerreiras deixaram de existir”, concluiu Rita, com pesar na voz.

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A notícia abalou Bunny profundamente, fazendo-a questionar o futuro das navegantes e o seu próprio destino. Sabiam que o futuro existia, sabiam que as guerreiras existiam no futuro. No entanto, também sabia que o futuro poderia ser mudado, e quase o foi, quando lutou no Caldeirão da Galáxia. O fim das guerreiras poderia implicar um futuro diferente? Enquanto tentava processar a informação ao chegar a casa, foi surpreendida por um miar sofrido que ecoava pelo quarto.

“Luna? És tu? Onde estás?”

Luna, a gata lunar, encontrava-se no parapeito da janela, visivelmente ferida. Bunny correu para junto dela, surpreendida. “Luna, o que te aconteceu?”

Ao contemplar a lua em quarto crescente na testa de Luna, agora pálida e sem brilho, Bunny compreendeu a gravidade da situação. Determinada a desvendar a verdade, Bunny recorreu ao seu cofre, onde guardava um medalhão em forma de coração incrustado com nove pedras preciosas. Com um gesto delicado, o medalhão abriu-se, revelando em seu interior uma estrela de cristal adornada. Com um movimento etéreo, Bunny fez surgir o Cristal Prateado de dentro do medalhão. Uma aura triste envolveu-a quando um cristal em forma de flor de lótus apareceu, insípido e transparente. O seu lendário brilho havia desaparecido aos poucos, transformando-o em uma simples pedra. Bunny contemplou o cristal com tristeza, percebendo que não poderia mais contar com seu poder para restaurar as capacidades de Luna.

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Na manhã seguinte, Bunny regressou ao templo Hikawa para os últimos preparativos do festival, contando desta vez com a presença de Maria.

“Meninas, tenho más notícias”, disse, preocupada. “É sobre a Luna. Ela apareceu ferida ontem à noite, e o pior é que a luz do seu quarto crescente cessou… Ela perdeu a habilidade de falar”.

Um longo silêncio abateu-se sobre as quatro amigas, quebrado apenas pelo vento que eccou pelo recinto.

“O Artemis também não apareceu em casa desde ontem de manhã. Será que está relacionado com o que aconteceu à Luna? Estou preocupada”, disse Joana. “Devíamos falar com a Ami com urgência.”,

“Bem, falei com ela pelo telemóvel ontem à noite. Apesar de ter tido algumatentativas frustradas e do seu poder estar fraco, ela conseguiu transformar-se”, anunciou Rita.

“Não entendo. Ela consegue e nós não? Será que as outras também se transformam?”, questionou Bunny, esperançosa.

“Vamos ser racionais. O meu Sailor Cristal de Marte, o vosso de Júpiter e Vénus concedem-nos o poder da transformação em sitonia com o Cristal Prateado da Bunny. O cristal também dá a habilidade ao Artemis e à Luna de poderem falar. Se o Cristal Prateado está enfraquecido, é normal que as nossas transformações não funcionem. Tudo se explica excepto a transformação da Ami”, disse Rita, tentando entender a situação. “Vamos acabar os últimos preparativos do festival enquanto tentamos resolver isso. É já daqui a pouco.”

“Bunny, onde vais?”, perguntou Maria horas depois, nos preparativos finais, ao ver Bunny vestir o seu caso.

“Tenho um assunto inadiável para tratar. Volto logo à noite!”, respondeu piscando o olho.

As meninas a observaram sair e continuaram os preparativos sem colocarem mais questões. Bunny dirigiu-se ao seu carro, onde tinha uma surpresa preparada para elas. Gonçalo tinha o seu vôo previsto para hoje, vindo passar férias de primavera a Tóquio. O aeroporto de Tóquio ficava apinhado nesta altura do ano, e o voo do Gonçalo chegava dentro de 40 minutos. O seu telemóvel ilumunou-se com a notificação de bateria fraca, lembrando-a que, mais uma vez, esquecera de o carregar. Bunny sentiu o coração bater mais forte enquanto dirigia-se apressadamente para o aeroporto. O tempo parecia passar devagar enquanto ela enfrentava o tráfego congestionado.

Finalmente, ao chegar ao aeroporto, Bunny verificou o relógio ansiosamente. O voo de Gonçalo estava prestes a aterrar. Com o coração acelerado, ela correu para a área de desembarque, esperando ansiosamente pelo momento em que veria Gonçalo novamente após 3 meses de ausência. A agitação do aeroporto estava em sitonia com a turbulência das emoções de Bunny ao ver cada vez mais passageiros sair da porta. Ela enviou uma mensagem para Gonçalo, informando-o de que estava lá, à espera dele, mas estranhamente, as mensagens não foram entregues e as suas chamadas caíram para o voicemail. Um pressentimento de apreensão começou a instalar-se em seu peito, ao mesmo tempo que o seu telemóvel se desligou por falta de bateria.

À medida que os minutos se arrastavam, Bunny observava cada pessoa que saía pela porta de desembarque, procurando desesperadamente pelo rosto familiar de Gonçalo. Ela sabia que ele embarcara no avião, pois enviara-lhe uma mensagem antes a decolagem, desejando-lhe uma boa viagem e expressando sua ansiedade para revê-lo, à qual obteve uma resposta em forma de coração, reciprocando o sentimento. No entanto, agora, enquanto esperava na porta de chegada, não havia sinal dele.

O medo começou a infiltrar-se na sua mente, enquanto tentava manter a calma e continuar à espera. Ela não podia imaginar o que poderia ter acontecido com Gonçalo e por que ele não estava ali. Cada segundo parecia uma eternidade. Uma hora se passou, e a esperança de ver Gonçalo desvaneceu-se lentamente. O seu coração começou a pesar com a triste certeza de que seu noivo não viria.

Com um sentimento demasiado familiar de decepção e desamparo, Bunny entrou no carro com as mãos trêmulas, os olhos marejados de lágrimas, e arrancou a toda velocidade em direção ao templo Hikawa. O motor rugia enquanto ela conduzia pelas ruas, a sua mente repleta de preocupação e incerteza sobre o paradeiro do seu amor.