Está frio, muito frio. É mais
uma manhã gelada em Tóquio. Estamos em pleno Janeiro, a estação do
frio e da neve. Lá fora, um manto de neve extensa cobre a cidade,
dando-lhe um sentimento de esquecimento.
A rainha Serenidade acordou sobressaltada. Algo não batia certo.
Lembrou-se da última vez em que sentiu o mesmo, há muitos anos
atrás. Dessa vez, um ataque massivo vindo de Nemésis havia morto os
habitantes de Cristal Tóquio, colocando-a num sono parecido com a
morte. Mas não poderia ser. Nemésis e a Lua Negra haviam sido
destruídos.
Caminhou pelos corredores do Palácio de Cristal. A sua filha
Chibi-Usa, futura herdeira do trono, agora uma bela adolescente,
dormia pacificamente no seu quarto. Dirigiu-se então para o quarto
da lua crescente. Neste quarto, repousam muitos dos artefactos do
Reino da Lua, do passado e do presente. No centro da majestosa
habitação está um pedestal adornado a prata. Um cristal brilha
intensamente semelhante a uma chama branca, com um brilho tão
intenso que quase cega a rainha. A rainha pega no Cristal Prateado e
num velho alfinete em forma de coração.
Com silenciosos e pesados passos, segue até ao fim do palácio, para
uma porta escondida nas
profundezas da escuridão. Abre-a.
- Plutão, chegou a hora.
Entretanto, no passado.
PipiPipiPipiPipiPipiPipiPipi
- Ahhhhhhhh! Estúpido despertador! -
gritou irritada dando um murro no botão que parava o alarme. ODEIO
ter aulas da parte da manhã! Bah, eu falto à universidade, ehehe!
-disse voltando a deitar-se.
- Bunny Tsukino, sua lontra. Tens de me levar à escola, acorda! - berrou
o seu irmão Chico irrompendo pelo quarto.
- Chico, deixa-me dormir, não me chateies!
- Ò MÃE!! A TUA FILHA QUER-ME DEIXAR A PÉ!
- Cala-te Chico! Já vou, bolas…!
Bunny veste-se e desce as escadas para tomar o pequeno-almoço. A mãe de
Bunny havia feito umas panquecas deliciosas.
- Bunny, o teu irmão vai chegar atrasado outra vez por tua causa.
- Ele que vá de autocarro!
- O teu pai e eu demos-te o carro com a condição de o levares à escola.
Fica a caminho da tua universidade, não custa nada!
- Está bem, está bem… Deixa-me acabar de
comer estas delícias! Ai que bom! Sinto que nasci só para provar estas
comidinhas deliciosas! Que felicidade!
Na TV, que estava ligada no noticiário matinal, ouvia-se a voz do
pivôt-«Em outras notícias, a princesa Célia I, herdeira do trono real
inglês, após muitos confrontos com o seu pai, Sua majestade Carlos XVI,
devido a razões desconhecidas, renunciou ao trono e desapareceu do país,
a coroa inglesa atravessa uma cris…»
- Ò mãe! Desliga a TV! Onde já se viu,
renunciar ao título de princesa – disse Bunny agora
sussurando- ser uma princesa não é um conto
de fadas. Traz responsabilidade e… Ah, detesto pensar tanto logo de
manhã!
- Disseste alguma coisa filha?
- Nada mãe, esquece. Deixa-me ver as horas…
7:40? Ahhh!! - gritou Bunny engolindo a última panqueca e saindo
atabalhoadamente.
Vamos Chico!
- Não importa quantos anos passem, a minha filha não muda nunca!
Bunny, agora com 20 anos, estudava na Universidade de Juuban. Estudava
Ciências Políticas. Sabia que o seu destino era tornar-se rainha de
Cristal Tóquio, logo, teria de ser diplomática – claro que o facto de
ter acabado a secundária com média de 11 e não ter conseguido entrar
noutro curso não tinha nada haver. Uma das suas colegas de curso era Bertierite, uma das antigas irmãs da caça da Lua Negra. As Irmãs da Caça
haviam tido muito sucesso com a sua loja de cosméticos e Bertierite
estava a estudar para ser relações públicas.
Depois de um dia de aulas, Bunny conduziu até ao templo Hikawa para o
encontro semanal com as restantes.
O templo Hikawa estava mais popular que nunca. O avô da Rita trabalhava
agora em part-time, devido à sua idade e a Rita estudava para ser uma
sacerdotisa de nível superior, ao mesmo tempo que tomava conta do
templo.
Tinha feito algumas alterações ao templo, o bosque à volta do edifício
fora remodelado, e era agora um belo parque, chamado “Mars Shrine”. O
novo sistema de metro de Tóquio tinha uma estação mesmo em frente ao
templo, o que facilitava imenso os acessos. Rita estava a preparar um
festival de talento há várias semanas. O festival, a realizar no dia
seguinte, consistia num concurso de talentps, onde cada pessoa poderia
fazer algo a que fosse boa. Havia muito trabalho a fazer.
-Cheguei! Desculpem o atraso! -
disse Bunny ofegante chegando ao pátio do templo.
- Seria uma surpresa se não chegasses
atrasada. - replicou amargamente uma rapariga de cabelos negros.
- Ò Rita! Que mau humor!
- Ela está assim porque o Fernando foi
visitar os pais e deixou-a sozinha! - disse divertida uma
rapariga loira que envergava um top e uma mini-saia.
- Joana cala-te!
- Pois pois… O Gonçalo também está nos EUA
há três anos e eu não fico assim. - respondeu alegremente.
A Maria?
- Não vai poder vir. Desde que abriu aquele
restaurante não tem tempo para nada.
- Mas por outro lado agora temos montes de
comida grátis!
- A questão é que agora temos de organizar
isto. - disse Rita olhando para o relógio de pulso.
Vamos ao trabalho?
Enquanto organizavam e decoravam o templo e o parque, as raparigas iam
falando.
- As coisas mudaram tanto…
- É verdade. Por um lado temos paz, mas por
outro…
- Por outro podemos seguir os nossos
sonhos. Já viram onde eu cheguei?
- A lado nenhum! Ainda só estás a fazer de
figurante na série do canal de menor audiência de todo o Japão! -
disse Rita num tom de gozo.
- Mas em breve chegarei a actriz principal!
Viverei em Hollywood rodeada de paparazzi! Ninguém para a Joana Lima!
- Eu estava a falar da nossa amizade
– esclareceu Bunny. A Ami finalmente foi
para a Alemanha para estudar medicina, está no outro lado do mundo. A
Maria praticamente não tem tempo para conviver connosco. Ainda bem que
tu não fazes muita falta nessa série Joana, senão nunca te víamos
também.
- Vocês não apreciam o meu talento...
– disse Joana com o orgulho ferido.
- Não é nada disso! Tu entendes o que quero
dizer! – desculpu-se Bunny levando a mão à cabeça. A Mariana e a
Haruka desapareceram sem deixar rasto quando eu
venci o Caos. A Susana voltou para o portão do tempo. O Prof. Tomoe
mudou-se com a Octávia para outra parte do Japão…
- Bunny o teu carro...! – interrompeu
Rita.
- A Chibi-Usa voltou para o futuro, as
Starlights nunca mais mandaram notícias, a Diana – continuou
Bunny fingindo não ouvir Rita.
- Acabaste de ser multada. - disse
Rita normalmente.
- AAHHH!! - gritou Bunny indignada
olhando para o seu carri estacionado em frente ao templo, metros abaixo. Porque é que não me avisaste
Rita?!
- Bem tentei, mas não te calavas. Mas
também se és estúpida o suficiente para estacionar em dois lugares de
deficiente mereces ser multada – observou Rita num tom
autoritário.
- Era só o que me faltava… -disse
Bunny envergonhada.
- Meninas, que tal irmos
agora jantar no restaurante da Maria?
- Boa, vamos!
- Só mesmo a Bunny para se esquecer dos
problemas com comida…
Dirigiram-se para o restaurante da Maria: Makoto’s Flavour Shrine
- Boa noite meninas!
- Olá Mário! – responderam todas
- Querem que chame a Maria?
- Sim, por favor!
- A Maria teve mesmo sorte em abrir o
restaurante em sociedade com o Mário. - sussurou Bunny mirando
Mário de alto a baixo. Olá Maria! -
saudou vendo a amiga.
- Olá olá Bunny. Tudo bem com vocês?
- Tudo. Olha Maria, quero uma lasanha de
carne a nadar em queijo derretido!
- Para mim pode ser uma pizza vegetariana.
- Que prato é este que está no menu, Maria?
- Como sabes o meu restaurante é famoso por
servir pratos típicos de vários países e cidades, e a novidade desta
semana é um prato típico da cidade do Porto da região norte de Portugal.
Chama-se francesinha. Consiste em pão com bife, fiambre, queijo,
linguiça, ovo, tudo coberto por uma camada de queijo derretido com molho
picante.
- Hummm! Parece bom, pode ser uma
francesinha para mim então!
- Certo. Depois de acabarem de comer venham
ali à cozinha, preciso de falar com vocês.
Depois do jantar – em que a Bunny sujou-se toda de molho- dirigem-se à
cozinha do restaurante.
- Que se passa?
- Já aconteceu comigo. Não consigo.
- Não pode ser…
- Então todas nós…?
- Já não nos conseguimos transformar. As
navegantes deixaram de existir.